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Memórias da Educação Infantil: histórias das primeiras creches municipais de São Carlos

Gabriela Guarnieri de Campos Tebet, Maria Claudia Bullio Fragelli, Priscila Helena Dovigo Oliveira
A obra “Memórias da Educação Infantil: histórias das primeiras creches municipais de São Carlos” pretende contar e relatar as histórias das creches municipais de São Carlos a partir de seus próprios protagonistas. Perspectiva ousada, na medida em que nos mostra que as pessoas podem narrar suas próprias histórias, e ao fazerem compõem e significam suas trajetórias, lhes dão sentidos, configurando os espaços sociais e compondo suas próprias vidas. Esta narratividade é um componente da subjetividade. Quando as narrativas são tecidas fazem história, situam a si, os outros e as coisas. A narrativa é uma maneira de mapear a vida e o social, mostrando os seus impasses, extraindo linhas de resistência, de escape, invenção e, portanto, situando e produzindo a si mesma ao longo dessas linhas. O livro, desta forma, é uma cartografia que se faz como um território a partir das linhas que são traçadas. Portanto ele compõe as histórias das creches de São Carlos e de seus e suas protagonistas. Esta narratividade proposta pelo livro não é um gênero literário apenas, não são apenas reminiscências. Não é só Mnemosyne (figura grega que personifica a memória), cuja função é preservar do esquecimento, as narrativas nesta obra é uma forma de fazer história. Deste modo, este livro entrelaça história oral, lembrança, narração, acontecimento, e nos mostra de que maneira a educação das crianças pequenas foi se institucionalizando em São Carlos. Outro ponto a sublinhar na proposta desta obra é a maneira pela qual a obra é composta. Todos(as) escrevem, cada um de seu jeito e a partir do lugar que ocupa(va) na história das creches. Todos escrevem, não há um autor que fala pelos outros ou que compõem a história para todos, não há uma grande narrativa que diga a verdade unificada dos acontecimentos. Cada um traz um pedaço da história que só poderia ser contada a partir daquele que narra, e que se une aos outros. Uma história sem representação, cada um tem a força da palavra e traça sentido ao seu trajeto, e nesta medida se faz a história social da conquista da creche no município de São Carlos. O livro é também uma inovação historiográfica, pois a história é contada por muitos: os pais, os professores, a comunidade, a universidade, os profissionais da creche, os gestores e etc. O livro é também um balanço das décadas sobre a construção das creches. E este balanço não paralisa o tempo, mas, também, remete ao futuro, pois anuncia o que ainda há por fazer. Mostra os avanços, as possibilidades, as conquistas e os fracassos! Os avanços e os impasses que vivem a educação infantil. Esta etapa da educação mais do que qualquer outra é resultado de lutas, sobretudo das mulheres! Portanto reafirmamos e convidamos os leitores e as leitoras para a proposta escrita pelas organizadoras do livro na apresentação: “Que as histórias relatadas por essas pessoas nos inspirem a pensar no papel de cada um e cada uma de nós para a construção dos próximos capítulos dessa história”. Anete Abramowicz
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Memória com história da educação: desafios eminentes

Lívia Diana Rocha Magalhães, José Alves Dias
Os textos do presente livro evidenciam de que há memórias sociais e coletivas, disputando no estágio alcançado pelo total capitalismo, uma educação capaz de recuperar e produzir um conhecimento formativo de caráter intelectual e que alie teoria e prática, ciência, trabalho e consciência histórica dos processos políticos os quais presidem uma sociedade, versus os presentismos históricos de uma escola que separa ou nega conhecimento didático-pedagógicos, referendados supostamente pela objetividade e neutralidade de seus conteúdos, visando a sua aplicação dentro de uma divisão do trabalho, onde o pensar e fazer, são formas de garantir escalas e distinções de meritocracias sociais e individuais. Nesse bojo de relações, pedagogias alternativas e sociais são desprezadas ou desarticuladas, toda vez que demonstram possibilidades concretas de esperança. Mas, não sem discussão e disputa por seus coletivos sociais. Uma História e uma Memória Social da Educação que se entrecruzam no presente, e se revelam no texto em que foram produzidos e aqui apresentados, quando o professor Juan Mainer (FIDICARIA, ES), coloca em evidência a negação do conhecimento crítico, acerca do passado traumático espanhol no currículo escolar e, que, parece estar falando, claro, em suas devidas diferenças históricas, do caso brasileiro. Em seguida, a professora Marize Ramos (FIOCRUZ-RJ), situa como a recomposição de políticas educacionais para o ensino médio as quais pareceriam estar em processo de superação, continuam rodando as políticas educacionais brasileiras, por meio da chamada contrarreforma do ensino médio no Brasil, implementada em 2016. Por sua vez, o professor Deribaldo Santos (UECE), e seus orientandos de Iniciação Científica Ellen Ribeiro e Thiago Sabino, situam com as definições de técnica e tecnologia, adentram ao currículo do Ensino Médio, visando reificar políticas educacionais de tal natureza. Aliás, um modelo de escola que parece novo, mas que carrega nas suas entranhas um projeto que foi propalado durante o governo civil-militar, a exemplo, das escolas agrícolas, como pode ser visto no texto do professor Estácio Moreira (IFBaiano e a da profa. Lívia Magalhães (UESB-PPGMLS-MP). Depois, Sandra Caminha (Minter PPGMLS-IFMA) e sua orientadora durante o mestrado, a profa. Lívia Magalhães, nos oferecem um retrato de memórias sociais e coletivas de professores, como também uma memória teórica escrita nos documentos do Instituto Federal do Maranhão - IFMA, que em suas contradições sociais e pedagógicas, revelam as disputas importantes entre um dever de ser baseado na escola politécnica e a realidade construída historicamente de modo dominante como sua negação. Mas, dentro da realidade educacional brasileira, poderíamos dizer, que há também outras memórias pedagógicas e sociais em disputa, as quais se manifestam por exemplo, na Pedagogia da Alternância, discutida pelo eminente prof. Paolo Nosella (Ufscar). De outra parte, Gilmara da Cunha em conjunto com a sua orientadora durante o mestrado, a profa. Mary Arapiraca (UFBA), situam que é preciso documentar experiências concretas da educação infantil, visando demonstrar que, mesmo dentro dos limites impostos pelas políticas educacionais brasileiras, há experiências importantes em curso na realidade. Depois, vamos encontrar o texto do prof. José Dias (DH-PPGMLS e MP-UESB), que nos faz retornar aos chamados anos de chumbo, os quais reaparecem em novos e velhos moldes nos assombrando, fazendo-nos lembrar de que há memórias políticas, elucidando um passado histórico de luta, mesmo em tempo difíceis, quando o autor recupera, a atuação dos movimentos de estudantes baianos, finalizando este livro com a perspectiva de que há sempre possibilidades de lutar por nossos ideais. Eis um livro, o qual nos coloca de frente para o presente em sua dialética histórica sob o crivo de suas contradições, demonstrando que se há consensos históricos dominantes de um dado modelo de educação, há também memórias em disputa e que apesar das políticas oficiais continuarem em voga, também há, memórias sociais em disputa, sempre tomando partido da escola. E, não poderíamos deixar de registrar e agradecer a oportunidade de realização do Mestrado Interinstitucional - MINER aprovado pela CAPES e oferecido pelo Programa em Memória, Linguagem e Sociedade (2016) para professores do Instituto Federal do Maranhão - IFMA, sem os quais, não poderíamos ter organizado o presente livro.
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História, sociedade e educação: o ensino superior e o desenvolvimento local

Paulino José Orso, João Carlos da Silva, André Paulo Castanha, Marcela Rebeca Contreras Loera
Muito se tem discutido sobre a relação entre educação e processo de desenvolvimento social, sobre o papel da Universidade, tanto em relação à produção científica, quanto à socialização do conhecimento, como sobre sua importância e sua função social. Não resta dúvida de que a universidade é produto das transformações históricas do homem e da sociedade e que ela vai assumindo formas, contornos e características que correspondem à etapa de desenvolvimento, à consciência da época e às exigências e possibilidades sociais. Assim, em função das transformações ocorridas até o momento, a universidade vem ganhando cada vez maior importância, uma vez que, por meio de seus agentes, ela pode contribuir significativamente com a apropriação e socialização dos conhecimentos historicamente produzidos, o que vale dizer, com a produção e compreensão do homem, da história e da sociedade e seus processos de transformação, com o desenvolvimento social e com a melhoria das condições de vida da população como um todo. Entretanto, também tem sido bastante comum deslocar a educação do conjunto das relações sociais, dos processos econômicos e políticos e, ideologicamente, atribuir-se a ela a responsabilidade quase que exclusiva, tanto pelo desenvolvimento econômico dos países como pelo desenvolvimento social. Não resta dúvida que a educação tem lá sua importância em tudo isso, mas também não resta dúvida de que ela não tem nenhum poder mágico e de que sozinha não pode resolver todos os problemas. Em relação a isso, pode-se dizer que a educação tem seus limites e possibilidades. E colocar a questão das possibilidades e limites da educação, significa colocar a questão da função social da educação e do seu alcance. Neste sentido, trazemos presente experiências que demonstrem concretamente o alcance da educação. É nesta perspectiva que se insere esta coletânea intitulada História, Sociedade e Educação: o Ensino Superior e o desenvolvimento local, organizada conjuntamente por Paulino José Orso, João Carlos da Silva e André Paulo Castanha, docentes do Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil – GT da Região Oeste do Paraná – HISTEDOPR – e por Marcela Rebeca Contreras Loera, da Universidad de Occidente (Culiacán - México). Reunindo produções sobre aspectos do Ensino Superior realizadas por intelectuais do Brasil, da Argentina, do México, da Venezuela, de Cuba, da Espanha e da Alemanha, pretende-se dar uma contribuição a respeito da discussão sobre o Ensino Superior e sua história, sobre a especificidade da universidade, sobre o papel da pós-graduação, sobre a função social da universidade e como ela pode contribuir com o desenvolvimento local. Com esta publicação, pretende-se socializar estudos e pesquisas de distintos pesquisadores, de diferentes países dos continentes americano e europeu – da América Latina, do Caribe, da América Central e da Europa, tendo como elo unificador a questão do Ensino Superior. Desta forma, procura-se não apenas ampliar a socialização de conhecimentos e contribuir com a consolidação do grupo de pesquisa do HISTEDOPR, como também, estreitar relações e ampliar o intercâmbio entre investigadores, grupos de pesquisa e instituições de deferentes países, além de divulgar positivamente o nome da Unioeste para além de seus muros e fronteiras locais e nacionais. No processo de desenvolvimento da pesquisa científica transitamos das pesquisas individuais, para as pesquisas impulsionadas por grupos e, destes, para articulações mais amplas, quer seja em âmbito nacional ou internacional. Os grupos surgem e se organizam em torno de preocupações e afinidades de pesquisa particulares. Neste sentido, o Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil – GT da Região Oeste do Paraná – HISTEDOPR, surgiu de um coletivo de pesquisadores vinculados à Unioeste, em seus diversos campis, que vinham desenvolvendo atividades acadêmicas, estudos e investigações no campo da História da Educação. Uma vez organizados, o HISTEDOPR passou a incorporar mais pesquisadores, de tal forma que potencializasse a realização de atividades no interior da universidade, contudo sem esquecer tanto da articulação dos diferentes níveis de ensino, como da comunidade externa. Assim, foi desenvolvendo pesquisas, organizando grupos de estudos, promovendo Ciclo de Debates periódicos e contínuos (desde 2003), organizou um Curso de Especialização em História da Educação Brasileira (que já concluiu sua terceira turma e conta com mais de 80 monografias defendidas sobre a História da Educação, principalmente envolvendo temáticas relacionadas à Região Oeste e Sudoeste do Paraná) e, além disso, articulou-se a um grupo de pesquisa nacional, o HISTEDBR, com sede na Unicamp, coordenado pelo Prof. Dermeval Saviani, que congrega pesquisadores de todas as regiões do país. Com isso, estendem-se muito as possibilidades de estudos, pesquisas e também de socialização de conhecimentos, uma vez que, todos os anos são realizadas Jornadas de Estudos ou Seminários em um dos estados brasileiros, além de ter canais para divulgação das produções, para publicação de livros e periódicos científicos da área. Junto aos eventos realizados anualmente, também se fazem reuniões com os líderes dos GTs (atualmente são 35) do HISTEDBR, para definir estratégias de ações, as frentes de pesquisas e os próximos passos a serem dados para a continuidade dos trabalhos. Depois da articulação nacionalmente, fez-se uma incursão externa, procurando reunir pesquisadores que, em seus países, também vêm desenvolvendo investigações em torno das mesmas linhas em que o HISTEDOPR vem atuando. Assim, inicialmente, estabeleceram-se contatos com pesquisadores da Argentina e do México, dos quais, resultou uma publicação, editada no México, sob o título: Educación Superior y Cooperativismo, congregando pesquisadores deste país, do Brasil e da Argentina. Dentro desta perspectiva, dando sequência a esta articulação, foram ampliados os contatos e envolvidos pesquisadores de outros países, que possibilitaram desenvolver outras ações, das quais resultou esta nova publicação, denominada de História, Sociedade e Educação: o Ensino Superior e o Desenvolvimento Local, desta vez, a ser editada no Brasil, envolvendo intelectuais do Brasil, da Argentina, do México, da Venezuela, de Cuba, da Espanha e da Alemanha, congregando estudos e pesquisas sobre aspectos do Ensino Superior destes diferentes países. Assim, além das diversas atividades e iniciativas que cada um dos pesquisadores vem desenvolvendo em seus países, em suas Instituições de Ensino Superior locais, com as ações conjuntas e com a socialização do conhecimento também ampliamos as possibilidades de compreensão e de intervenção social, quer seja em âmbito local, nacional ou internacional. É neste sentido que se insere esta publicação e que a mesma ganha relevância e que se pretende dar uma contribuição. Tudo isto demonstra a importância das ações coletivas, da organização em grupos de pesquisas, da articulação entre diferentes pesquisadores, do estabelecimento de intercâmbio entre instituições e países que, como enfatizamos, não só permitem ampliar as possibilidades de conhecimento e compreensão da realidade, como também de enfrentamento dos problemas sociais, que cada vez mais exigem ações coletivas. A coletânea História, Sociedade e Educação: o Ensino Superior e o Desenvolvimento Local está organizada me três partes, reunindo treze artigos, produzidos por vinte e oito pesquisadores, sedo três da Venezuela, dois de Cuba, seis do México, nove da Argentina, seis do Brasil, um da Espanha e um da Alemanha. Todos trazem como objeto comum de investigação o Ensino Superior. Da primeira parte denominada Ensino Superior, História e Sociedade, integram três artigos. O primeiro deles, que abre a coletânea, traz por título As universidades européias no período pré-moderno (século XII -1800), de autoria de Peter Johann Mainka, mostra que as universidades são instituições genuinamente europeias, que nasceram na Europa da Alta Idade Média e, a partir daí, espalharam-se não só pela Europa como pelo mundo inteiro. O autor destaca ainda que, apesar do Estado ter aumentado enormemente a sua influência sobre as universidades no período pré-moderno delas, entre o século XII e o fim dos Tempos Modernos, por volta de 1800, não conseguiu acabar com a autonomia que as havia caracterizado, especialmente, na fase inicial das mesmas. No artigo intitulado Ensino Superior brasileiro na primeira metade do século XIX: uma leitura a partir dos documentos, André Paulo Castanha analisa algumas medidas desencadeadas pelo Estado brasileiro para organizar o ensino superior na primeira metade do século XIX, especialmente relacionadas aos cursos de Direito e de Medicina. Destaca que, ainda que estabeleça o recorte temporal na primeira metade do século XIX, o estudo concentra-se entre 1827, data da institucionalização dos cursos de Direto e meados da década de 1850, período marcado por uma fase de estabilidade política, na qual aconteceram significativas reformas nas faculdades de Direito e Medicina. Em O papel idealizado para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em sua criação, Paulino José Orso traz à tona o papel atribuído à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FFCL – da Universidade de São Paulo – USP. De acordo com o autor, as pesquisas revelam que ela havia sido pensada e idealizada para ser o elo integrador da universidade, na qual todos os estudantes que adentrassem à instituição deveria passar e permanecer durante dois anos para receberem a formação denominada “humanística”, leia-se os princípios liberais e só depois iriam para as áreas específicas do conhecimento para concluírem sua formação técnica e profissional. Isto revela que, mais do que uma proposta de educação, intentavam erigir um projeto de sociedade, ou então, por meio da educação pretendiam consolidar um determinado projeto de sociedade. Da segunda parte, intitulada Ensino superior, sociedade e desenvolvimento local, integram sete artigos, que além de ocuparem-se do Ensino Superior, estão voltados para a questão do desenvolvimento local, ou então, da relação entre aquele e as sociedades locais. Educación, innovación y nuevas tecnologías frente a la interpelación de la pluralidad y de la desigualdad socioeconómica en América Latina, o primeiro artigo da série, de autoria de Pablo Christian Aparicio e María del Carmen Silva Menoni, aborda os processos de mudança pelas quais a educação superior foi passando, protagonizando fortes e positivas rupturas com relação aos modelos acadêmicos arcaicos, endógenos e hierárquicos, que vão ficando para trás, dando lugar a novas estruturas e itinerários educativos. De acordo com os autores, potencializada pelas novas tecnologias, a educação superior tem se constituído num elemento chave e determinante dos processos de desenvolvimento humano na América Latina, por um lado, fortemente marcado pela pluralidade cultural e, por outro, pelas desigualdades socioeconômicas decorrentes da distribuição diferenciada de oportunidades de formação em nível superior. Na sequência, Claudia Alvarez e Sandra Milena Muñoz, escrevem sobre El aprendizaje como contribución a otro desarrollo desde lo local. Una acercamiento a la experiencia del bachillerato popular, em que procuram mostrar os vínculos entre o desenvolvimento local e a aprendizagem, a partir de uma construção econômica que compreenda o trabalho como eixo fundamental na transformação da sociedade, reconhecendo que ao longo da história existiram distintas economias e que muitas delas existem na atualidade e são transformadoras da realidade social, baseada em valores, princípios e relações que dão prioridade à reciprocidade, à solidariedade e aos contextos particulares em que se geram as necessidades e processos econômicos, sociais, culturais e políticos. Anabella Zamora, Marisa Fournier, Ruth Muñoz e Ana Luz Abramovic
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História e historiografia da educação: debates e contribuições

Luciana Cristina Salvatti Coutinho, Régis Henrique dos Reis Silva, José Claudinei Lombardi, Mara Regina Martins Jacomeli
Essa coletânea, assim, é resultado das conferências e mesasredondas que fizeram parte da programação do X Seminário Nacional do HISTEDBR e está organizada em quatro partes subdivididas em dezesseis capítulos. A primeira parte é composta de três capítulos que versam sobre as relações, desde uma perspectiva marxista, entre história, educação e conjuntura política contemporânea sob os títulos: “Classes sociais e educação no Brasil contemporâneo” de autoria de Roberto Leher; “Desfecho Melancólico” de Plínio de Arruda Sampaio Filho e, por fim, Dermeval Saviani foca sua análise sobre “O Projeto ‘Escola sem Partido’ na luta de classes na atual conjuntura política brasileira”. O HISTEDBR e a Historiografia da Educação Brasileira é o tema central dos quatro capítulos que compõem a segunda parte da presente coletânea, abordado, contudo, sob diferentes perspectivas de representantes de diferentes instituições, tais como: Cláudia Maria Costa Alves (GT 2 – História da Educação – da ANPEd); Carlos Eduardo Vieira (SBHE); Patrícia Weiduschadt e Maria Helena Câmara Bastos (ASPHE) e Cláudio Félix dos Santos, representando o Grupo de Estudos Marxistas em Educação. A terceira parte concentra-se nas análises desenvolvidas no âmbito dos GTs responsáveis pelo Balanço da Produção do HISTEDBR, composta por sete capítulos, a saber: “Balanço dos seminários nacionais e jornadas do HISTEDBR”, redigido por Ana Elizabeth Santos Alves, Maria de Fátima Rodrigues Pereira e Maria José Aviz do Rosário; Antonio Carlos Ferreira Pinheiro sistematizou as análises no texto intitulado “Entrelaces e desenlaces, o significado sócio científico e as questões teóricas e metodológicas: um balanço da produção do HISTEDBR – Paraíba (1992-2016)”; uma “Síntese da produção em livros e coletâneas dos HISTEDBR-UFOPA” foi elaborada por Gilberto César Lopes Rodrigues; Régis Henrique dos Reis Silva publica o “Balanço da produção do HISTEDBR veiculada pela Navegando Publicações”; “A Revista HISTEDBR On-line e suas contribuições à História da Educação Brasileira (2001-2015)” é objeto de reflexões por parte de Maria Cristina Gomes Machado, Cristiane Silva Melo, Flávio Massami Martins Ruckstadter, Gizeli Fermino Coelho, Mario Borges Netto, Maria Isabel Moura Nascimento, Manoel Nelito Matheus Nascimento e Vanessa Camponas Mariano Ruckstadter; Elza Peixoto escreve “Germinal: Marxismo e Educação em debate – histórico, balanço, demandas e perspectivas” e, por fim, “O Balando de Mídias” é objeto de análise de Juliana Gonçalves Gobbe e Viviane Cardoso da Silva. A quarta e última sessão dessa coletânea tem como foco a mesa-redonda organizada como parte constitutiva da programação do X Seminário Nacional do HISTEDBR em que se prestou uma homenagem aos 50 anos de contribuição intelectual do professor Dermeval Saviani, co-fundador do HISTEDBR e coordenador geral do mesmo desde sua criação. Contamos, aqui, com as contribuições de Antonio Joaquim Severino que redigiu o capítulo sob o título “Dermeval Saviani: um intelectual compromissado com a formação de quadros para a educação brasileira” e, também, com o texto de Newton Duarte que versou “Sobre os 50 anos de militância marxista de Dermeval Saviani pela Educação Brasileira”. Com mais essa publicação da presente coletânea pela Navegando Publicações, reiteramos nosso princípio de socialização do conhecimento, disponibilizando-a em formato digital e gratuito.
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História e Educação na Amazônia

Marcos André Ferreira Estácio, Lucia Regina de Azevedo Nicida
O presente livro se apresenta como um amplo painel da educação na Amazônia, construído em perspectiva histórica por um conjunto de trinta e sete estudiosos da questão educacional. Na organização da obra, os vinte e sete estudos produzidos foram distribuídos em cinco partes, contando, as quatro primeiras partes, com cinco estudos cada uma, e localizando-se os sete estudos finais na quinta e última parte. A obra se inicia, apropriadamente, com o tema das relações étnico-raciais e a educação na Amazônia. Digo apropriadamente porque a característica diferencial da região amazônica é, sem dúvida, a presença de uma multiplicidade de povos indígenas em seu amplo território, caracterizado pela mais rica biodiversidade do planeta. Na sequência, a segunda parte agrupa os cinco estudos voltados para a temática da história das instituições escolares, seguindo-se a terceira parte com cinco estudos sobre a Escola Nova na Amazônia, e a quarta parte, que reúne, também ela, cinco estudos sobre a forma como se deu, na região amazônica, a importante iniciativa do período republicano de transformar as escolas isoladas em escolas reunidas e grupos escolares. Finalmente, a quinta parte reúne sete estudos sobre o tema da formação de professores e a política educacional na Amazônia. No livro, adotou-se a sistemática de começar a abordagem de cada um dos temas por um texto introdutório de caráter histórico-teórico. É assim que o primeiro tema, relativo à educação dos povos indígenas, começa com uma análise da educação e emancipação da escola indígena à luz dos fundamentos filosóficos da pedagogia histórico-crítica. Após essa introdução, são contemplados, na análise, o caso dos índios munduruku no Amazonas, o Instituto do Prata no Pará, a ONG Operação Amazônia Nativa e a luta por educação escolar levada a efeito pelas organizações indígenas no Amazonas. O segundo tema se abre, por sua vez, com as considerações teórico-metodológicas sobre a história das instituições escolares, passando à análise das seguintes instituições educacionais: Asilo Santo Tereza, no Maranhão; Instituição Pia Nossa Senhora das Graças, em Belém do Pará; Liceu Cuiabano, em Mato Grosso; e a Universidade do Estado do Amazonas. Na mesma linha, a análise do terceiro tema, referente à Escola Nova na Amazônia, se inicia com um estudo sobre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 como elemento desencadeador da renovação educacional no Brasil, complementado, ainda no plano da introdução teórica, com um estudo crítico da contribuição de John Dewey para a consolidação do pensamento liberal na educação. A partir dessa introdução, desenvolvem-se dois estudos sobre a Sociedade Amazonense de Professores, contemplando, o primeiro, a formulação de diretrizes educacionais de inspiração escolanovista para o Amazonas e, o segundo, a veiculação das ideias da Escola Nova pela Revista de Educação da Sociedade Amazonense de Professores. E a abordagem desse tema se completa com um estudo sobre a introdução da Escola Nova em Mato Grosso. O quarto tema, que versa sobre as escolas reunidas e grupos escolares, começa com um estudo sobre a compreensão da cultura educacional e da instituição de uma escola de verdade, pensado a partir do aparecimento dos grupos escolares, seguido de estudos específicos sobre os casos do Maranhão, do Pará e do Amapá. Por fim, o quinto e último tema relativo à formação de professores e à política educacional começa com um estudo geral sobre o dilema entre teoria e prática na formação dos profissionais da educação no Brasil, com foco na passagem das escolas normais aos institutos de educação. Na sequência, são estudadas as escolas normais do sul de Mato Grosso e da província do Amazonas, a instrução primária no Amazonas e no Maranhão no período do império, as escolas de linha em Rondônia e a política higienista no Pará da Belle Époque. Ainda que não tenha esgotado todos os aspectos da educação e conseguido cobrir todos os locais compreendidos na região amazônica – o que simplesmente era impossível fazer num trabalho pioneiro formatado em apenas um livro –, a presente obra avança significativamente no campo dos estudos de história regional da educação no Brasil. E isto é de grande relevância porque, como assinalei na conferência de abertura da IX Jornada do HISTEDBR realizada em julho de 2010 em Belém do Pará, as investigações sobre as formas específicas que a educação assume em nível local e regional são necessárias não apenas para conhecermos essas manifestações particulares: elas são uma exigência também para a compreensão concreta da educação em âmbito nacional. Com efeito, como disse Marx, o concreto é concreto por ser a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade da diversidade. Sem os estudos regionais e locais, o nacional será reduzido a mera abstração ou será tomada como nacional a manifestação local ou regional mais influente, como ocorreu com o município neutro e a província do Rio de Janeiro no Império, o Distrito Federal e os estados de São Paulo e Minas Gerais na Primeira República, e Rio de Janeiro e São Paulo após a Revolução de 1930. Enfim, estamos diante de uma obra que traz importante contribuição ao desenvolvimento da historiografia da educação brasileira. Recomendo, pois, sua leitura e estudo aos pesquisadores do campo da história da educação e aos professores não apenas da região amazônica, mas de todo o País, pois a compreensão das especificidades da educação nas várias regiões brasileiras é condição para compreendermos concretamente a educação nacional. Campinas, 23 de dezembro de 2015. Dermeval Saviani
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História da formação de alfabetizadoras em Minas Gerais

Francisca Izabel Pereira Maciel, Sônia Maria dos Santos, Juliano Guerra Rocha
Como leitoras e leitores poderão observar, nos capítulos deste livro, a dimensão histórica da atuação docente das alfabetizadoras pode e deve ser tomada por diferentes ângulos. Há que se reconhecer a prevalência dos homens no magistério nos contextos que antecederam a República no país, principalmente pela atuação dos religiosos, com destaque para os Jesuítas, em mais de duzentos anos à frente da educação no Brasil Colonial. Cenário masculino que se reproduz nas “aulas régias”, resultantes da Reforma Pombalina. Mas, o Século XIX introduzirá no Brasil os ares da sociedade burguesa, constituída a partir das experiências revolucionárias da Europa do Século XVIII, que trazem a instrução como uma das principais ferramentas para o processo civilizatório.
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História da Educação, Intelectuais e Instituições Escolares

José Carlos da Silva, Eraldo Leme Batista, José Luis Sanfelice
Esta coletânea intitulada História da educação, intelectuais e instituições escolares traz contribuições de pesquisadores de diferentes regiões do Brasil articulados em redes de pesquisa que abordam a temática em tela. Reúne textos de autores de renome bem como de pesquisadores mais jovens que vêm se debruçando neste estudo de forma coerente e consistente. Originalmente os textos foram publicados na Revista Educere et Educare, vinculada ao Programa de Pós-graduação em educação da UNIOESTE, Campus Cascavel. Nesta publicação privilegiamos os artigos articulados estritamente a temática deste Dossiê. Segundo Saviani (2007), o conceito do termo instituição origina-se do latim institutio, onis, e apresenta uma variação de significados, podendo caracterizar-se como sendo: plano, disposição, ordenação, instrução, criação, método e /ou sistema. Entende-se que o termo “instituição”, em sentido geral, compreende algo que não está concebido naturalmente, ou seja, pronto, mas que é produzido e constituído pela ação do homem. O termo exige uma definição em sua essência, pelo fato de que o homem cria muitas coisas de diferentes tipos, que nem sempre são instituições. Além disso, a instituição é representada por uma estrutura material, organizada para atender a determinada necessidade humana. Em síntese, as instituições escolares surgem para atender determinadas necessidades humanas, contudo não é toda e qualquer necessidade que requer a existência de uma instituição, pois o homem na procura de suas necessidades realiza-as num primeiro momento, como atividade espontânea e informal. É somente no processo que determina que uma atividade se institucionalize, e que desta forma se constitua, para satisfazer muito mais do que uma necessidade emergencial. A intencionalidade de pesquisa acerca da instituição escolar deve ser entendida mediante princípios delineados para além do interior de uma instituição escolar, ou seja, a partir das condições materiais que o fizeram ser produzido.
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Guia de fontes da bibliografia de e sobre Carneiro Leão

Jonathas de Paula Chagur, Maria Cristina Gomes Machado
Como o mundo moderno passa por constante transformação, não seria obstante dizer que a área da educação, em particular, da história da educação brasileira, passou por transformações que traduzem um intérrito interesse dos pesquisadores na produção de uma literatura que expressa o processo de formação dessa área, precisamente a partir da década de 1990. A área encontra–se consolidada, apresentando perspectivas promissoras ao desenvolvimento de pesquisas oriundas dos cursos de formação em nível de mestrado e doutorado em educação no Brasil (SAVIANI, 2006; NETO, 2012; BAIA HORTA, 2012). Atualmente, há cerca de 159 programas e cursos de pós–graduação em educação, segundo dados sobre os programas de pós–graduação em educação, fornecidos anualmente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2015), órgão do Ministério da Educação (MEC), responsável pelo reconhecimento e avaliação de cursos de pós–graduação stricto–sensu (mestrado profissional, mestrado acadêmico e doutorado) em âmbito nacional. Essa estimativa apresenta dados que podem ser relacionados com o ensino e a pesquisa em história da educação, refletindo, de certo modo, nos estudos de fontes, temas e métodos utilizados nos trabalhos da área. Tudo isso se constitui nas mais variadas pesquisas que são apresentadas e discutidas em eventos da área em âmbito nacional e internacional, tais como: o Congresso Ibero–Americano de História da Educação Latino–Americana; Congresso Luso–Brasileiro de História da Educação; Congresso Brasileiro de História da Educação; Seminários do HISTEDBR; e a Associação Nacional de Pós–graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) nacional e regional. Com o aumento da quantidade de trabalhos apresentados e, consequentemente, publicados nos anais e cadernos de comunicação desses eventos (sem mencionar as revistas especializadas e livros organizados), em seus mais diversos eixos temáticos1 que constituem a história da educação, é de fundamental importância debruçar um olhar atento em torno das produções apresentadas nos eventos da área com o intuito de constituir uma reflexão sobre os fenômenos educativos que compõem o debate historiográfico educacional brasileiro. Para conseguir acompanhar a crescente demanda do que se tem produzido na área, os pesquisadores, de modo geral, precisam estar atentos não só a uma literatura do que se produz na área, mas também a uma literatura do que se produz sobre a área. Em outras palavras, conforme Bellotto (1979) surge à necessidade de se elaborar uma catalogação, segundo a perspectiva descrita no campo da arquivologia, que possa ordenar, classificar e apresentar o uso de todas as fontes reunidas em um instrumento. No entanto, qual termo utilizar para denominar o uso desse instrumento para coletar os dados no âmbito da pesquisa histórica? Qual nome o pesquisador deve utilizar? Como chegar a uma terminologia com certa exatidão a sua denominação lexical? Diversas dúvidas surgiram da terminologia arquivística nos países (Estados Unidos, França e Espanha) onde esses estudos estavam adiantados ao longo da década de 1970 (BELOTTO, 1979), para denominar o termo de uso do instrumento para a coleta de dados. Dos termos recorrentes, Bellotto (1979) conceitua terminologicamente os termos instrumento de trabalho, instrumento de busca ou instrumento de investigação. Dentre esses vários termos, prevalece, então, o termo instrumento de pesquisa. Contudo, é importante destacar um aspecto nessa apresentação. Este guia de fontes é resultado do documento Bibliografia de e sobre Carneiro Leão: um instrumento de pesquisa, elaborado para subsidiar as discussões da tese de doutoramento do autor no atual Programa de Pós–graduação em Educação (PPE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), orientado pela Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Gomes Machado. Com o objetivo de analisar a reforma do ensino de língua estrangeira moderna, no ensino secundário no Colégio D. Pedro II, entre os anos de 1930–1934, o documento focalizou para tese de doutorado os aspectos relativos aos autores, à produção e à disseminação de pesquisas relacionadas acerca das ações educacionais do professor e intelectual brasileiro Antônio Carneiro Leão para pesquisas desenvolvidas na área da história da educação. Diante disso, este guia de fontes, então, foi desenvolvido no âmbito dos estudos do grupo de pesquisas “História da Educação, Intelectuais e Instituições Escolares – GEPHEIINSE2”. O grupo, criado em 2006, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Gomes Machado e pela Prof.ª Dr.ª Analete Regina Schelbauer, abrange investigações sobre a “Educação e História da Educação” que se articulam com a sociedade nos aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais. A partir da linha de pesquisa – educação e história da educação –,o GEPHEIINSE abarca projetos de pesquisa que se subdividem em três eixos de investigação: “História e Memória das Instituições Escolares no Brasil”; “História e Memória da Formação de Professores” e “História da Educação Pública e Intelectuais”. À medida que o GEPHEIINSE abrange todos esses eixos de investigação em sua linha de pesquisa (educação e história da educação), o grupo, formado por docentes, alunos e egressos do Programa de Pós–Graduação em Educação (PPE), do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e Programa de Iniciação Científica (PIC) da UEM, vem disseminando os resultados de suas pesquisas em eventos nacionais e internacionais, constituindo a sua produção em anais, livros, capítulos de livros, artigos em periódicos, teses, dissertações e monografias. Além disso, seus pesquisadores estão vinculados ao grupo nacional de estudos e pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR)”, criado em 1986, certificado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), contribuindo, portanto, para o aprimoramento do exercício da pesquisa acadêmica. Nessa perspectiva, cabe aqui levantar uma questão proposital a esta apresentação: Por que utilizar fontes históricas para discutir história da educação? Não obstante de uma resposta que traduza as dificuldades de reunir fontes impressas e arquivísticas, muitas vezes, lacunares e residuais na pesquisa histórica, a interpretação das fontes só adquire “[…] o estatuto de fonte diante do historiador que, ao formular o seu problema de pesquisa, delimitará elementos a partir dos quais serão buscadas as respostas às questões levantadas” (SAVIANI, 2013, p. 14). Por essa razão, nos estudos correspondentes a historiografia da educação, fontes são “[…] o ponto de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado” (SAVIANI, 2013, p. 13). São as fontes que indicam ao pesquisador o manuseio crítico no campo da historiografia com relação à enunciação do aprofundamento de certas questões teórico–metodológicas, garantindo–lhe um novo olhar aos fatos, tornando–se, pela sua prática e pela sua pesquisa, um historiador da educação. Paranavaí, 10 de março de 2017 Prof. Dr. Jonathas de Paula Chaguri Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado
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Educação e revolução: as revoluções nos séculos XIX e XX e as possibilidades de uma nova educação

José Claudinei Lombardi, Marcos Lima
Conjuntura complexa, com rápido aprofundamento das crises que acossam a humanidade, no seio mesmo de suas formações sociais. O agravamento da conjuntura econômica, social e política veio acompanhado de uma nova pandemia que acentua ainda mais os efeitos devastadores das crises. Em meio a esse contexto, coloca-se como desafio o desenvolvimento de novas formas de organização social, ancoradas em relações sociais de novo tipo, sobre as quais se assentam diferentes propostas revolucionárias de educação do futuro. O presente livro é resultado das aulas e seminários ocorridos na disciplina Seminário I: Educação e Revolução, coordenada pelos professores José Claudinei Lombardi, Mara Regina Martins Jacomeli e Demerval Saviani. O objetivo dos estudos coletivos realizados na disciplina foi a compreensão das ligações da educação com as novas formas de organização social resultantes dos processos revolucionários ocorridos nos séculos XIX e XX. De forma dialética, esclarece dúvidas e nos fornece caminhos para a compreensão da nossa práxis revolucionária. A prática social como professores, pós-graduandos e militantes, por vezes, nos coloca em relação conflitante com a realidade, que se apresenta como um todo caótico, limitando nossa atuação. Dúvidas de como desenvolver uma educação integral, uma formação humana plena que promova formas de emancipação, ainda que no interior da sociedade burguesa, marcada por um sistema de ensino impregnado pela lógica capitalista, sempre nos acompanharam. Longe da pretensão de que tais dúvidas possam ser de imediato sanadas, colocou-se como objetivo dos debates coletivos, cujos resultados são ora apresentados à reflexão crítica e a localização da educação e da escola como um campo de luta pela hegemonia, nos garantindo fôlego no contexto das crises. O debate acerca da lógica dialética em contraposição à lógica formal nos mostra que apesar de a escola ser uma instituição do Estado burguês, é possível, entendendo a essência revolucionária do conhecimento, desenvolver um movimento contra-hegemônico na escola, organizando professores e alunos para a compreensão crítica da realidade e sua transformação. Obviamente, que não podemos ser romântico e acreditar em um poder surreal e/ou idealista da escola. É preciso compreender os limites da educação enquanto instituição localizada no âmbito da superestrutura, sem, no entanto, anular seu potencial transformador, já que estrutura e superestrutura relacionam-se dialeticamente no interior do modo de produção capitalista e que determina, em última instância, as características e os papéis dos seus aparelhos ideológicos. Apesar desse pressuposto, temos que compreender a superestrutura também como espaço de contradição e resistência, em um movimento de reciprocidade e interdependência entre estrutura e superestrutura, possibilitando espaços de abertura para novas formas de organização social e educação. A leitura dos clássicos e as aulas evidenciaram a forte relação entre a educação e a revolução, possibilitando-nos o entendimento de que a socialização dos meios de produção e a socialização do conhecimento científico, artístico e filosófico são momentos indissociáveis do processo de superação da propriedade privada. Um não substitui o outro, assim como não estabelecem uma relação mecânica de simples decorrência. De maneira dinâmica e dialética a plena formação da humanidade garante a emancipação humana e a construção da sociedade sem classes, assim como a sociedade sem classes leva à emancipação humana. A formação omnilateral, a formação do homem novo, o ensino politécnico e o trabalho como princípio educativo, fazem parte do ideário de Marx e Engels que, apesar de não terem analisado detidamente a educação, apresentam em seus textos significativos apontamentos sobre a problemática educativa. As experiências que conseguiram se contrapor à lógica capitalista, com diferentes durações temporais - curto prazo, médio ou que perduram até os dias de hoje - não deixam dúvidas quanto à importância da educação socialista nos processos revolucionários. A disciplina forneceu um plano de estudo amplo, com referencial teórico clássico e também contemporâneo. A participação dos professores responsáveis pela disciplina em todas as aulas, assim como a presença de professores convidados, demonstram a necessária relação entre trabalho e educação. A atenção para planos de esvaziamento do sentido da escola, tanto da direita quanto da esquerda, nos fazem atentar para a perversidade de movimentos como “Escola Sem Partido”, assim como o perigo das pedagogias do “aprender a aprender”, sem falar do ativismo empresarial no interior do “Compromisso Todos Pela Educação”, cooptando e neutralizando a perspectiva transformadora de setores populares desavisados. Precisamos, seguindo os exemplos históricos de experiências revolucionárias em educação, trabalhados em sala de aula, valorizar o que foi socialmente produzido no campo do conhecimento, como conteúdo a ser transmitido no ato de produzir direta e intencionalmente nos indivíduos singulares a humanidade historicamente produzida pelo conjunto dos homens, como propõe a Pedagogia Histórico-Crítica. Isso não significa a recepção passiva do saber por parte dos indivíduos, mas a instrumentalização para a continuidade da luta em novas trincheiras, ainda que em condições distantes de nossa escolha, sem cedermos ao reformismo, por um lado, ou ao imobilismo, por outro, a pretexto da ausência de alternativas ou bases materiais ou, ainda, condições subjetivas. Por fim, destacamos a importância dos artigos que compõem a coletânea que ora apresentamos aos leitores, verdadeiros instrumentos teóricos de combate para que possamos compreender o lugar que a educação ocupa no processo de transformação estrutural da sociedade, capacitando-nos para a luta por hegemonia no âmbito da escola pública.
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Edição crítica da legislação educacional primária do Brasil imperial: a legislação geral e complementar referente à Corte entre 1827 e 1889

André Paulo Castanha
O conteúdo deste livro corresponde ao relatório conclusivo do estágio de pós-doutoramento realizado por seu autor junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação (DEFHE) e ao Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR) no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). André Paulo Castanha vem se dedicando aos estudos historiográficos da educação no império brasileiro desde seu curso de graduação em História concluído em 1995 na Universidade Federal de Mato Grosso, tendo então realizado, como trabalho de conclusão do curso, um estudo sobre a organização da instrução pública na província de Mato Grosso no período compreendido entre 1864 e 1871. Deu sequência a esse seu interesse de pesquisa desenvolvendo, num Curso de Especialização em Metodologia da História realizado entre 1996 e 1998, um estudo sobre as políticas de instrução pública na província de Mato Grosso, abordando a legislação educacional de 1834 a 1873. Pesquisando sobre o mesmo período (1834-1873) elaborou sua dissertação de mestrado, Pedagogia da moralidade: o Estado e a organização da instrução pública na província de Mato Grosso, aprovada em 1999 no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. Mas o antecedente próximo deste livro foi sua tese de doutoramento, O Ato Adicional de 1834 e a Instrução Elementar no Império: descentralização ou centralização?, defendida em 2007 na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que se constituiu numa ampla pesquisa sobre a educação brasileira no período imperial abordando, pelo método da historiografia comparada, a instrução pública no município da Corte e nas províncias do Rio de Janeiro, Mato Grosso e Paraná. Para desenvolver sua tese de doutorado André Paulo Castanha se baseou em fontes primárias, tendo levantado uma vasta documentação referente às normas baixadas tanto pelo governo imperial como pelos governos das três províncias analisadas. Evidentemente, em razão da delimitação do estudo, seja pela temática tratada, seja pela limitação temporal da duração do doutorado, grande parte da documentação levantada requeria o desenvolvimento de novos projetos para serem devidamente exploradas em suas várias potencialidades. E o primeiro desses projetos que imediatamente se impôs foi a edição crítica de toda essa documentação começando pela legislação baixada pelo governo imperial sobre a instrução pública primária. Tendo sido agraciado com uma bolsa de pós-doutorado pela CAPES em virtude de sua tese de doutorado ter sido classificada como a melhor tese da área de educação defendida em 2007, manifestou-se a oportunidade do desenvolvimento sistemático desse primeiro projeto. Ato contínuo, André Paulo Castanha apresentou à FE-UNICAMP proposta de realização de estágio pós-doutoral versando sobre a edição crítica da legislação educacional do ensino primário no Brasil Imperial referente ao município da Corte. Aprovada a proposta o candidato dedicou-se durante todo o ano de 2010 ao desenvolvimento do projeto cuja conclusão resultou num denso relatório que agora ganha ampla divulgação na forma do presente livro. A obra, denominada Edição crítica da legislação educacional primária do Brasil imperial: a legislação geral e complementar referente à Corte entre 1827 e 1889, está estruturada em quatro capítulos precedidos de uma introdução e seguidos de uma conclusão. A Introdução esclarece sobre o teor da pesquisa, o modo como foi desenvolvida a investigação e a forma adotada na exposição dos resultados. O Capítulo I, denominado “a legislação educacional como fonte para a história da educação: indicações teóricas e metodológicas a partir do marxismo”, justifica e fundamenta o recurso à legislação como fonte para a abordagem historiográfica da educação tomando como referência teórico-metodológica o materialismo histórico. Nos três capítulos seguintes procedeu-se à análise da legislação educacional do Brasil Imperial desdobrando-a em três períodos, assim nomeados: Capítulo II – Brasil de 1827 a 1850: limites e possibilidades da organização da instrução nacional. Capítulo III – Brasil 1851 a 1878: a instrução sob controle do Estado. Capítulo IV – Brasil 1879 a 1889: rupturas e permanências na organização da instrução pública. Em cada um desses três capítulos procedeu-se à contextualização histórica e à reprodução dos documentos legais na sequência dos quais foram registradas as correspondentes notas críticas. Os leitores constatarão que o registro da documentação é exaustivo abrangendo leis, decretos, regulamentos, portarias, decisões, avisos, instruções. Finalmente, as Conclusões registram os principais resultados do estudo apresentados segundo três aspectos: os de caráter pessoal, ligados às condições em que o autor realizou a pesquisa. Os de caráter metodológico, relacionados com a questão das fontes; com o conhecimento do contexto histórico; com o trabalho de levantamento, catalogação, identificação e digitalização das fontes; e com o uso da legislação educacional como fonte historiográfica. Finalmente, os aspectos relativos ao conhecimento do período imperial ligados às condições históricas concretas em que os homens daquela época enfrentaram o problema da instrução pública primária equacionando-o segundo as necessidades e possibilidades que lhes foram objetivamente postas. Vazado em linguagem clara e precisa, o texto revela uma pesquisa rigorosa atendendo plenamente às exigências da investigação historiográfica. O autor trabalhou com afinco revelando destacada disciplina intelectual que lhe permitiu cumprir com pontualidade o cronograma traçado tendo produzido um trabalho de fôlego teoricamente consistente e empiricamente apoiado nas fontes documentais pertinentes, coligidas criteriosamente. Seu estudo traz uma contribuição original destinada a propiciar a revisão da historiografia sobre a educação brasileira no século XIX. Com efeito, a historiografia da educação referente ao período imperial normalmente se limita à legislação mais geral reportando-se, via de regra, à Lei das Escolas de Primeiras Letras, de 1827; ao Ato Adicional de 1834; à Reforma Couto Ferraz, de 1854; e à Reforma Leôncio de Carvalho, de 1879. Esta obra vai além, disponibilizando todo um conjunto de documentos que compõem uma legislação intermediária e específica com forte impacto na organização das escolas e no trabalho dos professores. E tudo isso é enriquecido por preciosas notas críticas que nos permitem compreender quão significativo foi o influxo dessas normas específicas no encaminhamento prático das questões enfrentadas pelas autoridades de ensino e pelos professores no exercício da instrução pública primária no Brasil Imperial. Este livro evidencia que a legislação geral estabelece as diretrizes e fixa os parâmetros a serem seguidos. Mas sua efetiva implantação depende da regulamentação que é feita por meio de uma legislação complementar comportando diversos dispositivos como portarias, avisos, decisões, estatutos, regimentos, instruções e regulamentos. Em suma, considero que a pesquisa realizada por André Paulo Castanha desenvolveu-se em perfeita sintonia com a tese por mim enunciada segundo a qual para se compreender o real significado da legislação não basta ater-se à letra da lei; é preciso captar o seu espírito. Não é suficiente analisar o texto; é preciso examinar o contexto. Não basta ler nas linhas; é necessário ler nas entrelinhas. Diante do exposto recomendo vivamente a leitura deste livro não apenas àqueles que se dedicam ao ensino da disciplina história da educação brasileira no período imperial que nele encontrarão um valioso instrumento para o seu trabalho pedagógico com os alunos. Obviamente, esta obra é de leitura obrigatória aos estudiosos da história da educação brasileira sendo, ademais, de grande utilidade para todos os educadores, quaisquer que sejam as funções que venham a exercer no campo educativo. Isso porque a partir do estudo do caso particular do período imperial nos permite compreender de maneira geral a sistemática pela qual o Estado, no exercício de seu poder normativo, determina os processos de organização das escolas e de realização do trabalho educativo. Campinas, 09 de março de 2013. Dermeval Saviani
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