A pedagogia histórico-crítica completa 40 anos em 2019. Elaborada pelo Professor Dermeval Saviani, esta teoria pedagógica de fundamentação marxista toma a escola como espaço imprescindível para a formação humana, o professor como intelectual e a socialização do conhecimento científico, sistematizado como elemento central para o máximo desenvolvimento do ser humano.
Ao longo destas quatro décadas serviu de base para inúmeras pesquisas de mestrado e doutorado, artigos científicos, elaborações de currículos, além de constituir a ferramenta mais desenvolvida para o trabalho pedagógico de muitos/as professores/as que se orientam por uma perspectiva crítica da sociedade.
Embora sempre tenha estado entre as ideias pedagógicas formuladas no fim do século passado, é possível afirmar que foi alvo de um profundo e vigoroso movimento de retomada, nos últimos dez anos. Pode-se dizer que o marco dessa retomada se deu em dezembro de 2009 quando o grupo de pesquisa “Estudos Marxistas em Educação” promoveu, na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, o Seminário “Pedagogia histórico-crítica: 30 anos” obviamente, em comemoração ao marco dos 30 anos dessa teoria pedagógica.
Estamos vivendo um período de regressão civilizatória com avanço, nada animador, de forças sociais e políticas de extrema direita, cujo traço definidor no plano educacional é o profundo desdém pelo conhecimento científico, o apego a formulações fundamentalistas, e a mercadorização da educação com consequente ataque à Educação pública, gratuita entendida como direito de todos e, com isso, ampliando a precarização do trabalho de professores/as, o achatamento salarial, a destruição da carreira do magistério e o processo de desqualificação da formação dos/as futuros/as professores/as.
No Brasil, tivemos um golpe jurídico-midiático-parlamentar em 2016 que encerrou o segundo mandato da presidenta Dilma Roussef, a prisão injusta do maior líder popular do país, num processo repleto de equívocos e carente de provas; o impedimento de Lula de ser candidato em 2018 e a eleição de Jair Bolsonaro para presidente com base numa campanha de mentiras e disseminação do ódio. Os primeiros meses do novo governo demonstram que nada é tão ruim que não possa ficar pior.
Obviamente que também é possível observar o crescimento das mobilizações e a resistência da classe trabalhadora. Nós entendemos a teoria pedagógica, objeto deste evento, enquanto um dos instrumentos de luta de que se pode dispor aos trabalhadores nas batalhas diárias. Entendemos que os dominados precisam dominar o que os dominantes dominam.
Neste contexto, celebrar a pedagogia histórico-crítica é ao mesmo tempo um elogio à memória e um ato de resistência; uma celebração e uma mobilização; uma revisita e um salto para frente. O congresso dos 40 anos da pedagogia histórico-crítica pretende ser um espaço de avaliação do grau de desenvolvimento desta teoria, mas também uma possibilidade de projetá-la no futuro. Pretendemos, nestes três dias, nos reunir, estudar, debater e reafirmar posição em defesa das reivindicações da classe trabalhadora, da retomada do Estado democrático de direito, da liberdade de Lula e da escola enquanto espaço de lutas pelo máximo desenvolvimento de homens e mulheres.