“SÉCULO INGLÊS”[1]
Devido o importante papel econômico, político e cultural da Inglaterra em suas relações econômicas, sociais, políticas e culturais com o Império Português e, posteriormente, com o brasileiro, o século XIX ficou sendo chamado de o “século inglês”. Em 1808, abriram-se os portos da Colônia portuguesa na América do Sul e, conseqüentemente, ocorreu a derrocada do antigo sistema colonial. Superado o exclusivismo português, inúmeros estrangeiros puderam finalmente visitar a terra tão protegida, ainda quase totalmente desconhecida e tão promissora em riquezas naturais. Entre os estrangeiros, a presença dos ingleses foi a mais expressiva, em decorrência dos privilégios comerciais que desfrutavam no Brasil, por intermédio de Portugal. Estes privilégios existiam desde os tratados assinados com Portugal e foram intensificados com o Tratado de 1810, com a Grã-Bretanha. Não é difícil compreender que eles exerceram significativa influência tanto sobre a economia, como sobre o campo das idéias, estando, nesse momento, entre os primeiros a lançarem publicações sobre o Brasil no Velho Mundo. Foram os ingleses os precursores de nossa historiografia, primeiro com as obras de Andrew Grant, publicada em 1809, depois com a obra de Robert Southey que foi completada por John Armitage, publicadas em 1810 e 1836, respectivamente (Leite, 1996, p.54). Podemos até mesmo dizer que os ingleses desempenharam um papel fundamental na história do Império, concorrendo para a modificação de certos aspectos da vida, da cultura e da própria paisagem brasileira. Indo além, a cultura política, econômica e técnica que nos legaram, foi fundamental para que o Brasil viesse a ser uma nação independente. Os britânicos foram responsáveis pela abertura do Brasil à Europa, no processo chamado de re-europeização, atendendo aos seus interesses, por um lado, e nos influenciando econômica, política e culturalmente, por outro. Apesar dos ingleses terem se concentrado nos produtos da revolução industrial, não deixaram de exercer sua influência sobre nossa política e nossa cultura. A orientação inglesa predominou desde a introdução de métodos educacionais, políticos e administrativos até o exercício da ciência. As relações entre os impérios, britânico e brasileiro, se basearam no que alguns autores chamaram de “imperialismo informal”, diferenciando-se, assim, das relações de interferência econômica e política caracterizada por se dar de forma direta e militarizada. No entanto, os ingleses exerceram, no Brasil, um imperialismo político, naval, comercial e um quase total imperialismo econômico, primeiro por intermédio de Portugal e, posteriormente, com a autonomia, de forma direta (Freyre, 2000, p. 42).
Por isso, a história da influência britânica no Brasil está geralmente relacionada à história política, diplomática e econômica, uma vez que, com a vinda da Família Real, o predomínio político e comercial britânico fortaleceu-se (Freyre, 2000, p. 10). Com a abertura dos portos às “nações amigas”, preferencialmente à Inglaterra, se iniciavam as relações anglo-brasileiras. Logo os ingleses perceberam que manter uma política com o Brasil nas bases da que vinham praticando com Portugal só poderia ser lucrativo, uma vez que o Brasil oferecia excelentes oportunidades para a expansão de sua indústria e de seu comércio (Freyre, 2000, p. 19). A presença inglesa no Brasil implicou, portanto, em alterações no ritmo da vida econômica, política, social e cultural, num momento de crise do sistema colonial português, que já se fazia notar. Sistema este que, por sua vez, sofreu os efeitos de uma mudança da própria dinâmica européia e, no caso particular dos ingleses, os efeitos da expansão de mercado a fim de atender a interesses que envolviam as grandes transformações industriais da Inglaterra (Mota, 1972, p. 57).