Antijesuitismo ou Anti-jesuitismo

Significado: 

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Sob a expressão antijesuitismo designamos os sentimentos, conceitos e escritos abertamente contrários à Companhia de Jesus, seus membros, sua teologia, sua eclesiologia, sua política, sua moral e sua pedagogia. O sentimento antijesuítico começou a se formar ainda com Inácio de Loyola (1491-1556) vivo. Os primeiros a expressarem tais sentimentos antijesuíticos foram os pregadores protestantes alemães na década de 60 do século XVI. A publicação da obra De Rege et Regis Institutione, do jesuíta Juan de Mariana (1536-1624) em 1599 acabou por reforçar a onda contrária aos jesuítas tanto nos meios protestantes quanto no interior da própria Igreja Católica. Nessa obra ele defendia o tiranocídio, que era um antigo argumento da filosofia e da teologia políticas. No entanto, naquele momento deflagrou grande estridência nos ataques à Companhia de Jesus. O texto que é um exemplo de literatura antijesuítica é a Monita Secreta (Instrução Secreta), de autoria do polonês Hieronim Zahorowski. Sua primeira edição ocorreu em Cracóvia no ano de 1614. Teve e ainda tem leitores interessados. Há edições recentes da obra. O texto contém instruções práticas aos jesuítas e revela uma separação completa entre interesse político e moral cristã. O libreto ajudou a forjar a imagem dos jesuítas como interesseiros, amorais, laxistas, professores da amoralidade e até como renitentes. A imagem cresceu e tomou grandes proporções no século XVIII, quando a Companhia de Jesus foi expulsa do Reino Português (1759) e extinta pelo papado em 1773. Os jansenistas no século XVII, com destaque para Blaise Pascoal (1623-1662) e Antonie Arnauld (1612-1694), foram os grandes fomentadores do espírito de animosidade e beligerância em relação aos jesuítas na França. No século XVIII podemos destacar Denis Diderot (1713-1784). No verbete jesuíta da Enciclopédia podemos verificar toda a personificação de ardis, falsidades e mentiras na figura do padre jesuíta. Os jesuítas são descritos apenas com caracterizações negativas. Os ataques prosseguiram no século XIX, capitaneados pelos Revolucionários (ou simpatizantes da Revolução) após a Restauração da monarquia na França e pelos Positivistas. Esses, no Brasil, produziram farto material com ataques à pedagogia e à educação jesuíticas, identificando-as como nocivas à nação brasileira - quando propunham uma educação laica (e positivista) para o país. A visão dos Positivistas a respeito dos jesuítas influenciou os historiadores da educação brasileira. Ecos do antijesuitismo de extração Positivista podem ser encontrados nos vários manuais de história da educação e também na historiografia brasileira sobre o Brasil. No Reino Português, atribuída a Francisco de la Piedad (pseudônimo), foi publicada em Coimbra no ano de 1654, a obra Teatro Jesuítico. Nela havia acusações aos jesuítas e denúncia do perigo representado pela Companhia de Jesus para os bispos e demais Ordens Religiosas. O século XVIII  porém, produziu o mais tenaz espírito antijesuítico em Portugal. Dois exemplos são notáveis: Luis António Verney (1713-1792) que publicou cinco volumes do Verdadeiro Método de Estudar (1746) nos quais  pretendia especialmente, oferecer uma alternativa à pedagogia jesuítica. A expulsão de 1759 fala por si só. Além do clássico repertório de fontes para o estudo dos diversos aspectos da Companhia de Jesus indicamos René FÜLLÖP-MILLER (1946), em uma obra que destila antijesuitismo. Pode ser consultada como exemplo de literatura antijesuítica: O livro de José Eduardo FRANCO e Bruno Cardoso REIS (1997), além de farto material para pesquisas, traz como apêndices três documentos: A lei de expulsão dos jesuítas de Portugal de 1759, o Breve de extinção da Companhia de Jesus de 21 de julho de 1773 e o Manifesto Republicano do Porto, de 1881. Ivan TEIXEIRA (1999) em Mecenato pombalino e poesia neoclássica indica fontes para pesquisas sobre Pombal e o pensamento antijesuítico do século XVIII, especialmente na literatura. Já na obra de Michel LEROY (1999), intitulada  O mito jesuíta. De Béranger a Michelet é apresentada a evolução do antijesuitismo na França do século XVI ao XIX. Indica preciosas fontes para o estudo do tema. Uma obra mais geral que é referência para o estudo de diversos temas ligados à Companhia de Jesus é o Dicionnário Histórico de la Compañía de Jesús. Biográfico-Temático. Foi organizado pelos jesuítas Charles E. O’NEILL e Joaquín María DOMINGUEZ (2001). Pode-se ainda encontrar referência ao antijesuitismo em Portugal na obra História do Ensino em Portugal, de Rômulo DE CARVALHO (2001), especialmente nos capítulos XIII (A Reforma Pombalina dos Estudos), p. 423-483, e XIV (A situação do ensino imediatamente após a queda de Pombal), p. 485-520. Paulo DE ASSUNÇÃO (2004) em Negócios Jesuíticos, especialmente na introdução, fala da dificuldade do estudo do tema, uma vez que as fontes estão impregnadas ora pelo antijesuitismo, ora por discussões apaixonadas, geralmente feitas pelos próprios padres jesuítas. Charles SAUVESTRE (2004) é o responsável pela edição mais recente da citada Monita Secreta, outro exemplo de literatura antijesuítica. Por fim, Jonathan WRIGHT (2006), na recente publicação Os jesuítas: missões, mitos e histórias, faz uma análise sóbria e acadêmica do tema. Atualiza a discussão e problematiza antigas interpretações.

 

REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS – Antijesuitismo

 

SAUVESTRE, Charles.(ed) Instruções secretas dos jesuítas: contendo o recenseamento dos jesuítas na França por departamento e ornada de uma gravura (Monita Secreta). São Paulo: Madras, 2004.

O’NEILL, Charles E. (S.I.); DOMÍNGUEZ, Joaquín María (Diretores).  Diccionário de la Compañía de Jesús. Biográfico-Temático. 4 volumes. Roma/Madri: Institutum Historicum S.I./Universidad Pontificia Comillas, 2001.

 

REFERÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS – Antijesuitismo

DE CARVALHO, Rómulo. História do Ensino em Portugal.  Desde a fundação da nacionalidade até o fim do regime de Salazar-Caetano. 3ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

FRANCO, José Eduardo; REIS, Bruno Cardoso. Vieira na literatura anti-jesuítica (séculos XVIII-XX). Lisboa: Roma/Fundação Maria Manuela e Vasco de Albuquerque D’Orey, 1997.

DE ASSUNÇÃO, Paulo. Negócios jesuíticos: o cotidiano da administração dos bens divinosSão Paulo: EDUSP, 2004.

FÜLLÖP-MILLER, René. Os jesuítas: seus segredo se seu poder. Rio de Janeiro: Globo, 1946.

LEROY, Michel. O mito jesuíta De Béranger a Michelet. Lisboa: Roma, 1999.

O’MALLEY, John W. Os primeiros jesuítas. São Leopoldo/Bauru: UNISINOS/EDUSC. 2004.

TEIXEIRA, Ivan. Mecenato pombalino e poesia neoclássica. São Paulo: FAPESP/EDUSP, 1999.

WRIGHT, Jonathan. Os jesuítas: missões, mitos e histórias. Rio de Janeiro: Relume- Dumará, 2006.='margin-bottom:6.0pt;text-align:justify'>

 

[1] Elaborado por ARNAUT DE TOLEDO, Cézar de Alencar; RUCKSTADTER, Flávio Massami Martins; RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano.

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