"Com o presidente Jair Bolsonaro agindo como aliado do vírus, o Brasil não só perdeu a oportunidade de ouro de confirmar sua competência reconhecida internacionalmente no enfrentamento anterior de epidemias."
O Brasil perdeu uma grande oportunidade de se constituir em exemplo para todo o mundo no enfrentamento da pandemia do Coronavírus. Tinha condições bastante favoráveis para isso. Dispondo do SUS, o maior Sistema Universal de Saúde do planeta e sendo um dos últimos países a ser afetado, se beneficiava do conhecimento das ações levadas a efeito pelos países que tiveram êxito como Nova Zelândia, Coréia do Sul, Alemanha, Portugal, Vietnã e a própria China podendo, então, planejar o enfrentamento levando em conta essas experiências bem sucedidas.
Mesmo com o sucateamento do SUS e a destruição do Programa "Mais Médicos", o governo federal deveria, assim que foi anunciada na China a manifestação do Coronavírus, reforçar o orçamento do SUS repondo os bilhões que haviam sido subtraídos no processo de sucateamento e acrescentando recursos novos com a aprovação do "estado de emergência" e coordenar o enfrentamento nacional à Covid 19 reequipando os hospitais e firmando contratos de aquisição dos insumos necessários que, feitos em âmbito nacional, pela maior magnitude teriam melhores condições de vencer a concorrência a preços bem mais acessíveis.
Tendo em vista a omissão do governo Bolsonaro, os governos estaduais e municipais tiveram de procurar adquirir os equipamentos hospitalares e demais insumos para o tratamento dos pacientes, de forma isolada, submetendo-se a preços abusivos além de transtornos quanto à entrega dos bens adquiridos. O governo federal sequer aplicou os recursos destinados ao combate da epidemia tendo se limitado a apenas 29% do montante aprovado pelo Congresso Nacional numa atitude que, mais do que irresponsável pode ser mesmo classificada como genocida, pois desperdiçou recursos aplicando-os de forma indevida como foi o caso do Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército que já gastou mais de R$ 1,5 milhão para ampliar, em 100 vezes, sua produção de cloroquina, medicamento sabidamente ineficaz para o combate à Covid 19. Não bastasse isso, em plena fase de combate à pandemia, Bolsonaro demite dois ministros médicos e coloca, para dirigir o Ministério da Saúde, um general sem formação alguma na área da saúde. Nessas condições, parte significativa das mortes ocorreram porque faltaram, às UTIs, anestésicos e até analgésicos para entubar e tratar os doentes. E a falta de materiais de proteção provocou a morte de grande número de profissionais da saúde fazendo com que, em 12 de maio, o Brasil comemorou o Dia Internacional da Enfermagem como o primeiro país do mundo em mortes de enfermeiras e enfermeiros em decorrência do novo coronavírus, superando Estados Unidos, Espanha e Itália juntos, o que representa cerca de 38% do número de óbitos desses profissionais em todo o mundo.
Com o presidente Jair Bolsonaro agindo como aliado do vírus, o Brasil não só perdeu a oportunidade de ouro de confirmar sua competência reconhecida internacionalmente no enfrentamento anterior de epidemias. Acabou se transformando no líder mundial em mortes de profissionais da saúde e no país que disputa com os Estados Unidos a pior posição no combate à pandemia. E, de quebra, a Covid 19 continua se alastrando quando já poderia estar em acelerado refluxo e sob controle.