"Não há mais alternativa reformista: ou a humanidade coloca um fim no capitalismo ou a ganância desmesurada de riqueza liquidará a humanidade!"
Estamos inaugurando este novo espaço de debates e intercâmbio de análises nosso grupo de estudo e pesquisa que já tem uma longa trajetória (o grupo Histedbr foi formado em 1986 - tendo completado 34 anos de existência). Não é a primeira iniciativa de criação de um espaço de debates, pois já em 1995 tomamos a iniciativa de produzir o boletim “Histedbr”, em formato impresso, mas este não passou de um primeiro e único número, preparado para lançamento no III Seminário Nacional do grupo. A iniciativa de editar um boletim foi temporariamente abandonada, sendo retomada em 1999 com a publicação de um informativo eletrônico e que recebeu o nome de “Boletim ‘História, Sociedade e Educação”, lançado em maio de 1999. Foram produzidos 3 números do boletim, editados on line, com o quarto ficando incompleto, pois estava em preparação.
Logo depois de suspensa, essa iniciativa foi substituída pela produção da “Revista Histedbr On Line”, com o primeiro número publicado em setembro de 2000 e que se mantém até hoje. A revista passou por várias mudanças, buscando se adequar às
condições impostas para a socialização da produção acadêmica, notadamente com a criação de parâmetros avaliativos e classificatórios dos veículos e da própria produção acadêmica, sob a indução da CAPES, uma agência governamental criada para coordenar os esforços para a formação de professores e pesquisadores de nível superior no Brasil (por isso chamada de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), mas que acabou assumindo o papel de indutor, avaliador e aprovador da política de formação de professores e de pesquisadores na pós-graduação no Brasil. Lamentavelmente as revistas acadêmicas foram se tornando um mecanismo diferencial para incremento de uma perspectiva produtivista e individualista, alimentadora de um lucrativo negócio editorial que abrange não apenas a produção das revistas, mas uma série de serviços prestados por empresas privadas de indexação e de de todo tipo de serviços que uma produção editorial “internacionalizada” exige (do gerenciamento, passando pela editoração à tradução).
Na medida em que a liberdade de produção e de socialização acadêmica foram sendo atravessadas pelos interesses do capital, sob a tutela de Estados representativos de seus interesses, começaram a surgir várias iniciativas “alternativas” e de socialização de análises e debates contra-hegemônicos, um movimento editorial que tem raízes históricas nas publicações socialistas, anarquistas e comunistas. Foi então que vários de nós (do grupo Histedbr e de outras instituições) começamos a conversar sobre a necessidade de criação de novos espaços para a divulgação e debate acadêmico, bem como das várias questões sobre a política educacional, apenas referenciando nosso campo de atuação. É nessa perspectiva que está sendo criada no site do Histedbr esta nova revista eletrônica (e-revista) e que buscará socializar, em formato menos formal que um trabalho acadêmico, as análises e opiniões dos intelectuais vinculados ao Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”. Inicialmente o espaço contará com colunistas que periodicamente socializarão seus textos. Esperamos que seja este espaço vá tomando a forma de uma revista eletrônica, que tenham não apenas colunistas, mas colaboradores eventuais que socializem seus textos e incrementem as necessárias análises dos rumos e descaminhos da política educacional.
A presente publicação ocorre em mais um momento complexo para a humanidade, com uma profunda crise estrutural que deixa visível o esgotamento do modo de produção capitalista. Foi um regime que estabeleceu formalmente a propriedade privada, base e fundamento para a exploração do trabalhador (proletário) pelo não-trabalhador (burguês); que aumentou visivelmente a miséria da maioria da população num polo, concentrando a riqueza nas mãos de poucos no outro lado; acirrou com isso a luta de classes, uma característica fundante de todas as sociedades divididas em classes; que promove a destruição da natureza numa escala que está levando à catástrofe ambiental e à perda das condições para a vida (humana) em nosso planeta.
Não há mais alternativa reformista: ou a humanidade coloca um fim no capitalismo ou a ganância desmesurada de riqueza liquidará a humanidade! Como já estamos na barbárie não dá para continuar clamando por socialismo ou barbárie, mas apenas por uma insígnia: revolução da ordem existente e construção de novas relações societárias. Anotei várias ideias para este primeiro texto da coluna, adentrando nas dimensões do desmonte que está ocorrendo com a educação, com a pesquisa e a produção de ciência & tecnologia. Também anotei para tratar da educação nestes tempos de pandemia - principalmente após a notícia de ontem (17/09/2020) que o ocupante da presidência - o BozoNero - afirmou que os professores querem manter as escolas fechadas porque não querem trabalhar. Esse tema me fez, ainda, anotar o embate atual quanto ao retorno das atividades presenciais nas escolas, uma atitude irresponsável, pois a mortalidade pelo coronavírus continua em patamares extremamente elevados. Anotei ainda a necessidade de aprofundar o debate sobre o uso da informática e da comunicação à distância - denominado de Educação à Distância (EaD) - e que vem sendo implementada de modo estapafúrdio em vários cantos e recantos do mundo e, em particular no Brasil, como se fosse o advento de uma nova educação e não o uso de um poderoso instrumento de comunicação e estudo à distância, à semelhança de outros instrumentos e procedimentos educativos e de comunicação usados ao longo da história (também da educação).
A minha principal anotação, entretanto, foi quanto a necessidade de aprofundarmos nossas análises sobre a complexa crise estrutural e conjuntural do capitalismo, particularmente centrando nosso foco na formação social brasileira, que está às voltas não apenas com a crise, mas de um explicável refluxo dos movimentos e ações políticas progressistas e de um avanço das forças conservadoras e golpistas, uma condição estrutural e histórica de nossa formação social, pela qual nossas elites ciclicamente lançam mão de movimentos e golpes contra-revolucionários como meio de barrar o avanço das lutas e conquistas sociais, mesmo que essas não passem de atendimento de necessidades básicas da população (como alimentação, habitação, saúde, educação, assistência e previdência social, etc.).
Espero que este novo espaço seja importante para os educadores brasileiros e, de minha parte, estarei cerrando fileira na defesa da educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todos. Não é uma bandeira nova, pois desfraldada ainda na Revolução Francesa, tem animado intelectuais e movimento de educadores desde então: é uma luta que ainda mantém atualidade, principalmente em tempo de avanço neoliberal e da transformação dos direitos sociais em serviços, sob o controle do capital. É disso que decorre o título de minha coluna, como que numa adesão e chamado aos camaradas que lutam pela transformação revolucionária da sociedade...