O que é filosofia?

"Os deuses não precisam filosofar porque eles já sabem tudo. Os seres humanos precisam, pois não sabem nada! Assim, filosofia é o que o filósofo faz ao filosofar!"

Olá, tudo bem? Sou o Professor Zanin. Seja bem-vindo à coluna “A lei é pensar o educar”!  Sou formado em Direito, mestre e doutorando em Filosofia do Direito. Além disso, sou especialista em Educação. Há doze anos sou professor da educação superior. Hoje vamos pensar sobre uma pergunta simples, mas incômoda e difícil: o que é filosofia?

A dificuldade da questão está no sentido de que é, ela mesma, uma questão filosófica. Ademais, não há consenso entre os filósofos. Por isso, cada época propôs o seu conceito de filosofia. Pense na sua ciência, por exemplo, a pergunta “o que é” é simples e desconcertante porque, provavelmente, ainda hoje não temos respostas definitivas e consensuais. O que é Direito? O que é Educação? Essas duas perguntas são difíceis para qualquer profissional, seja da ciência jurídica, seja das ciências da educação. Por isso, feitas essas advertências, proponho duas abordagens: etimológica e manualesca.

Etimologicamente, a palavra “filosofia” vem da união de duas palavras gregas: philia e sophos. A primeira significa amor. A segunda, saber. Assim, unindo as palavras, a filosofia é amor ao saber, à sabedoria; o filósofo é o amante do saber; e o filosofar é o processo que leva ao saber. Os deuses não precisam filosofar porque eles já sabem tudo. Os seres humanos precisam, pois não sabem nada! Assim, filosofia é o que o filósofo faz ao filosofar!

Do ponto de vista dos manuais, a filosofia é definida como a busca pelos fundamentos universais que explicam, racional e sistematicamente, a totalidade dos mundos (natural e humano). Vamos pensar essa definição. Veja bem, trata-se de uma busca constante porque sempre incompleta, uma vez que não somos deuses. Não saber nada leva o ser humano à busca e ao ato de questionar. Não por acaso Sócrates é o patrono da filosofia, pois, quando soube que o oráculo o tinha definido como o ser humano mais sábio da Grécia, ele duvidou e foi, humildemente, questionar os considerados “mais sábios” para provar que ele não era. Teve uma surpresa, pois “os mais sábios” acreditavam ter a posse fechada e dogmática do saber, mas ele, Sócrates, era realmente o mais sábio, pois se considerava apenas amigo do saber, numa busca aberta e flexível.

No entanto, nem toda busca é filosófica. A busca questionadora e amorosa do filósofo direciona seus esforços ao fundamento (arché). O fundamento é aquilo do qual todas as coisas nascem, aquilo que sustenta todas as coisas e para o qual todas as coisas retornam. O fundamento é a origem, o meio e o fim. Não por acaso, o primeiro filósofo afirmou que “Tudo é água” ou que, mais tarde, afirmou-se que “o ser humano é a medida de todas as coisas”. A metafísica, como parte da filosofia e que está além da física, exemplifica essa busca filosófica pelo fundamento de tudo, além da física, do empírico e das ciências.

Uma das características do fundamento é que ele é universal, no sentido de que vale para todos e em todos os lugares. Universal é diferente de particular. Universal lembra uno, unidade, que é diferente de múltiplo e de multiplicidade. A busca da filosofia, por ser universal, é diferente da busca das ciências, que são particulares. Aliás, no começo da filosofia, as ciências nasceram dela e de sua busca questionadora. Só mais tarde as filhas ciências vão brigar e se separar da mãe filosofia.

O resultado dessa busca questionadora dos fundamentos universais é uma explicação racional e sistemática. Racional porque baseada não nas opiniões (doxa), mas sim em argumentos lógicos, no sentido de que vem de outra palavra grega, o logos. Além disso, tais argumentos do logos vão formando um sistema de conceitos ordenado e coerente.

Universalidade, racionalidade, sistematicidade, ordem e coerência remetem à totalidade das explicações da filosofia, mais uma vez diferenciando-a das ciências, que dão respostas parciais. As ciências, que buscam respostas, não conseguem pensar a totalidade do mundo, pois suas teorias são direcionadas a objetos parciais. Só a filosofia, que busca manter vivo o perguntar, consegue, pois seu questionar busca o fundamento.

O fundamento explica o mundo natural e humano. O fundamento fundamenta, manifesta-se no mundo. No começo da filosofia, o fundamento filosófico era físico (physis). Depois, tornou-se humano (nomos). Não por acaso, a filosofia nasceu em “confronto” com a tradição do mito (Homero e Hesíodo) e com os sofistas, os primeiros pedagogos e advogados do Ocidente. A filosofia é da mesma época do nascimento da cidade (polis), da política, da democracia, garantidas pela luta inclusiva em torno da educação (paideia) e do direito (nomos, themis, diké), antes restritos à nobreza. A filosofia busca, questionando, o fundamento de tudo, para fundamentar e manifestar-se em tudo. Essa é sua utilidade!

A função dessas primeiras aproximações à filosofia é a de servir de apoio didático. Claro que, mais tarde, os próprios filósofos vão questionar o caráter universal e sistemático da filosofia. No entanto, vale como ponto de partida introdutório.

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