O julgamento de Sócrates: método socrático (parte 1)

"Até hoje, nos planos de aula dos professores, vemos a utilização das aulas dialogadas ou “socráticas”, baseadas no método socrático que tem, como não poderia deixar de ser ao fundamento cosmológico da Grécia, uma mistura de mito, deuses e razão humana, na busca de uma vida melhor."

Olá, tudo bem? Sou o Professor Zanin. Seja bem-vindo à coluna “A lei é pensar o educar”! Hoje vamos pensar sobre o julgamento de Sócrates e o método socrático.

O que significa ter a habilidade de falar bem? Fala bem aquele que diz coisas falsas, mente, engana, comete injustiças e é imprudente? Ou fala bem quem diz coisas verdadeiras, justas e prudentes? O que alguém deve fazer quando se depara com uma pessoa que diz coisas falsas, comete injustiças e é imprudente?

De um lado está Sócrates, sem dinheiro, que afirma falar as coisas simplesmente com as palavras que vêm à boca, referindo-se à missão que lhe veio dos deuses. De outro lado estão os sofistas, com dinheiro, que enfeitam e fazem o que querem com a fala, pois ela é humana. De acordo com a habilidade de falar bem, qual é o melhor mestre para ensinar e aperfeiçoar as virtudes humanas e civis dos jovens? Os sofistas afirmam saber e poder ensinar. Mas, Sócrates, afirma nada saber, sendo-lhe impossível ensinar.

Mesmo assim, Sócrates foi acusado e levado ao tribunal. No entanto, não há apenas uma habilidade de falar bem, mas várias. Por isso que Sócrates afirma que "é a primeira vez que me apresento diante de um tribunal, na idade de mais de setenta anos: por isso, sou quase estranho ao modo de falar aqui". Diferente dos sofistas, que ensinavam, por dinheiro, a técnica de falar bem ao profissional político e jurídico da Grécia.

No tribunal, mesmo sem saber o modo de falar bem nesse local, Sócrates lembra a virtude do orador e do juiz. A virtude do orador é a de falar a verdade. Já a virtude do juiz é a de prestar atenção ao que é dito e verificar se é verdadeiro e justo. Nisso a fala de Sócrates é diferente da de seus acusadores, pois ele busca a virtude, ao passo que os outros, apenas a calúnia, o ódio, a maldade, a arrogância e a inveja.

A acusação genérica ao filosofar de Sócrates é: a de ser homem sábio que perde seu tempo e sua ação sendo questionador das coisas celestes e investigador das coisas terrenas e subterrâneas e que, além disso, torna mais forte a razão mais fraca, não acredita nos deuses e ensina tudo isso aos jovens, por dinheiro, corrompendo-os, sendo crime e devendo ser condenado à morte. Obviamente, só restava a Sócrates apresentar sua defesa.

Apesar de ser um texto curto, a "Apologia de Sócrates" apresenta idéias muito densas em seus desdobramentos. Por essa razão, vamos dividir os argumentos da defesa de Sócrates em cinco partes: (1) sabedorias, oráculo e método socrático; (2) pobreza, jovens, educador e vida virtuosa; (3) ser humano adaptado à cidade pelos deuses; (4) comportamentos adequados dos juízes e dos acusados; e (5) penas, morte e maldade. Hoje veremos a parte 1.

Sócrates afirma dizer toda a verdade porque é sábio. Mas de qual sabedoria se trata? Trata-se da sabedoria humana, da qual os sofistas nada sabem, pois acreditam ter uma sabedoria mais do que humana, divina. Sócrates é sábio porque afirma ter uma sabedoria humana, que nada sabe. Ao passo que os sofistas não são sábios, no sentido humano, pois afirmam ter toda a sabedoria divina.

Então, Sócrates apresenta o oráculo de Delfos como prova de seu argumento. Diz que um amigo foi ao oráculo e perguntou se havia ser humano mais sábio do que Sócrates. O oráculo respondeu que não! Daí nasce o método socrático do andarilho questionador: "Fui a um daqueles detentores da sabedoria, com a intenção de refutar, por meio dele, sem dúvida, o oráculo (...)."

Sócrates faz então três testes: o dos políticos, o dos poetas e dos artífices. Assim, o político parecia sábio, mas não era verdadeiramente. Os poetas parecem fazer o que fazem muito mais por prática do que por sabedoria. Quanto aos artífices, por serem bons em uma coisa, acreditam ser bons em várias outras. "(...) aqueles homens acreditam saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber. Parece, pois, que eu seja mais sábio do que eles, nisso (...): não acredito saber aquilo que não sei."

Assim, seguindo os deuses, ao contrário do que a acusação lhe imputa, Sócrates chegou à conclusão de que os ditos mais sábios eram privados da sabedoria porque acreditavam a possuir de forma total e definitiva, e que, ao contrário, os ditos menos sábios, reputados como ineptos, eram, na realidade, mais capazes e abertos à sabedoria, pois admitiam nada saber. Assim, Sócrates é um exemplo humano da sabedoria divina, pois reconhece os seus próprios limites.

Qual a importância disso tudo para o direito e para a educação? Até hoje a oratória e a argumentação jurídicas usam Sócrates como exemplo. Até hoje, nos planos de aula dos professores, vemos a utilização das aulas dialogadas ou “socráticas”, baseadas no método socrático que tem, como não poderia deixar de ser ao fundamento cosmológico da Grécia, uma mistura de mito, deuses e razão humana, na busca de uma vida melhor.

Obrigado pela leitura e nos vemos nos próximos textos. Não deixem de me seguir nas redes sociais: Facebook, Instagram, Linkedin, Academia e Blog “Pensar Direito”. Faça uma visita no canal “Pensar Direito”, no YouTube. Se quiser fazer contato, aqui está meu e-mail [fabriciozanin@gmail.com]. Abraços, abra-se e “bora pensar direito!”, Prof. Zanin.

Imagem: