Julgamento de Sócrates (parte 2) Feliz Dia dos Professores!

"O que é uma vida boa, melhor e feliz? É melhor viver entre cidadãos que fazem o bem ou que fazem o mal? Os bons cidadãos recebem o bem de outros cidadãos."

Olá, tudo bem? Sou o Professor Zanin. Bem-vindo à coluna “A lei é pensar o educar”! Sou formado em Direito, mestre e doutorando em Filosofia do Direito. Especialista em Educação e professor da educação superior. Hoje vamos pensar sobre a segunda parte do julgamento de Sócrates, o que servirá como homenagem aos professores no seu dia, pois hoje, quando escrevo, é 15 de outubro de 2020. Então, com carinho, aos meus mestres!

Nas colunas anteriores, vimos a importância da abertura para a cidadania (coluna 1), o que é filosofia (coluna 2), a importância da filosofia para o Direito e para a Educação (coluna 3) e, por último, a primeira parte do julgamento de Sócrates, na qual foram abordados os temas do método socrático, da diferença entre as sabedorias humana e divina e da missão divina do oráculo da qual Sócrates se sentia portador e mensageiro.

É fundamental reconhecer as diferenças entre o filósofo e os sofistas. Sócrates representa a filosofia, pois acredita, por um lado, no conhecimento da verdade pela razão e, por outro lado e ao mesmo tempo, acredita nos deuses, pois afirma estar cumprindo um clamor ou missão divina ao ouvir sua voz interior da consciência. Além disso, o filósofo Sócrates afirma nada poder ensinar por nada saber, ou seja, vive na pobreza por nada ensinar e nada cobrar.

Justamente o contrário dos sofistas, que afirmam ser céticos quanto à possibilidade do conhecimento e agnósticos quanto aos deuses. No entanto, afirmam ter a posse do conhecimento, que ensinam a quem puder pagar, peregrinando de cidade em cidade. Assim, a pobreza de Sócrates é seu maior argumento e testemunha contra a falsa acusação dos sofistas de que ele ensinava, cobrava e corrompia os jovens.

Os jovens ociosos e filhos dos ricos seguiam a Sócrates espontaneamente, ficando maravilhados com a aplicação do método socrático na sua missão divina de provar que não era sábio. Os mesmos jovens imitavam a Sócrates, aplicando seu método. Assim, as pessoas que eram expostas em seu falso saber passavam a odiar Sócrates por meio de seus jovens imitadores, afirmando a falsa acusação genérica de que ele os corrompia, mas negando o verdadeiro motivo de que foram expostos em sua presunção de sabedoria.

Sócrates argumenta que, se a acusação fosse verdadeira, a de que ele corrompia a juventude com seus ensinamentos, então os acusadores deveriam trazer ao tribunal testemunhas desses jovens aos quais Sócrates havia feito mal com suas ações. Mas, obviamente, não há tais testemunhas. Daí Sócrates afirmar que a acusação de Meleto, pelos poetas, de Anito, pelos artífices, e de Lícon, pelos oradores, era uma grande calúnia, uma mentira, fruto do ódio e do ressentimento dos falsos sábios expostos em sua ignorância.

Outro argumento utilizado por Sócrates para sua defesa é a comparação entre os jovens e os animais. Pergunta Sócrates: "Quem, afinal de contas, qual ser humano é capaz de educar os jovens e torná-los melhores em suas virtudes? Todos, alguns ou apenas um, aquele que sabe de educação?"

Continua: "Quem, afinal de contas, qual ser humano é capaz de educar os animais e torná-los melhores? Todos, alguns ou apenas um, aquele que sabe de animais?" A conclusão desse argumento é a de que todos os outros seres humanos de Atenas fariam bem aos jovens, exceto Sócrates, o que é uma grande mentira!

O que é uma vida boa, melhor e feliz? É melhor viver entre cidadãos que fazem o bem ou que fazem o mal? Os bons cidadãos recebem o bem de outros cidadãos. Os maus cidadãos, que cometem o mau voluntariamente, recebem o mau de seus cidadãos através das leis e das penas. No entanto, aqueles bons cidadãos, que cometem o mal involuntariamente, não precisam receber penas, mas sim, instrução, advertência, educação e diálogo.

Os acusadores de Sócrates negaram-lhe a instrução, o diálogo, a educação, preferindo levá-lo, através de uma mentira, ao tribunal e à condenação à pena de morte. Diz Sócrates: "Tu, [Meleto], ao contrário, evitaste encontrar-me e instruir-me, não o quiseste; e me conduzes aqui, onde a lei ordena citar aqueles que têm necessidade de pena e não de instrução".

Sócrates conclui afirmando que enquanto respirar não deixará de filosofar e de instruir cada cidadão, ou seja, de exortá-los a não se preocuparem tanto com poder, honrarias e riquezas, mas sim com a sabedoria a verdade e a alma, para que tenham uma vida melhor, boa, feliz, seja individual (ética), seja comum (política).

Nas próximas colunas, veremos a continuidade dos argumentos de Sócrates em sua defesa: (3) ser humano adaptado à cidade pelos deuses; (4) comportamentos adequados dos juízes e dos acusados; e (5) penas, morte e maldade.

Obrigado pela leitura e nos vemos nos próximos textos. Não deixem de me seguir nas redes sociais: Facebook, Instagram, Linkedin, Academia e Blog “Pensar Direito”. Faça uma visita no canal “Pensar Direito”, no YouTube. Se quiser fazer contato, aqui está meu e-mail [fabriciozanin@gmail.com]. Abraços, abra-se e “bora pensar direito!”, Prof. Zanin.

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