A EaD e a internet para a formação crítica: memória e reflexões

"Não considero a EaD como uma substituta da educação presencial e da interação civilizatória que possibilita."

Para registro da memória das disciplinas / cursos que realizamos no Programa de Pós-graduação em Educação da Unicamp e, ainda para informar o coordenador do PPGE, Prof. Dr. Antonio Carlos Amorim sobre a disciplina em desenvolvimento, busquei nos acertos de vídeos na EaD da Faculdade de Educação da Unicamp essas informações. A preocupação com esse acervo já me havia sido manifestada pelo Prof. e doutorando Ribamar Nogueira da Silva, responsável pela organização do novo site do Histedbr. Neste artigo registro a disciplina / curso que estamos coletivamente ministrando; o resultado das buscas por recuperar o acervo dos vídeos das disciplinas anteriormente ministradas e, para concluir, teço algumas breves reflexões sobre o uso da EaD.

 
A disciplina / curso Pedagogia Histórico Crítica e prática transformadora

Como tem acontecido em anos anteriores, buscamos articular a oferta de disciplina com outros PPGEs que possuem grupos de pesquisa vinculados ao Histedbr nacional. A ideia era que a disciplina ocorresse com o uso de uma ferramenta de Educação a Distãncia (EaD), como já havia ocorrido em anos anteriores. Neste segundo semestre letivo de 2020 está sendo ofertada a disciplina:

 

FE 192 - Seminário III - Pedagogia Histórico-Crítica e prática transformadora

Trata-se de um seminário ministrado por um coletivo de professores e pesquisadores que há anos estudam e implementam a teoria pedagógica histórico-crítica. Enquanto disciplina está sendo ofertada simultaneamente em outros quatro PPGEs, como segue: Unicamp – com 30 alunos matriculados; Ufopa – 17 alunos matriculados; UFSCar – campus sede – 2 alunos; UFSCar – Sorocaba – 12 alunos; UFES – com 29 alunos matriculados; num TOTAL de 90 alunos regularmente matriculados no conjunto das disciplinas.

Além disso, como informamos a oferta da disciplina numa reunião dos coordenadores dos grupos de pesquisa do Histedbr Nacional, outras duas (2) instituições, na impossibilidade de ofertar como uma disciplina regular do programa de pós-graduação, optaram pela oferta como Curso de Extensão, abrindo a possibilidade de participação mais ampla de professores e interessados no aprofundamento de estudos sobre a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC). A surpresa ficou por conta da grande procura que os cursos tiveram, levando os organizadores a deixarem aberta a inscrição para os cursos por mais tempo. Com isso, houve possibilidade de contemplar os professores atingidos pelos trabalhos de formação e extensão feitos pelos mais de 40 grupos de pesquisa vinculados ao Histedbr. Duas instituições ofertaram a disciplina como cursos de extensão, a saber: Museu Pedagógico – Uesb - Vitória da Conquista – com 1040 inscritos; UFPB em parceria com a UNIRIO – com 4115 inscritos; num TOTAL de 5115 inscritos nos cursos de extensão.

 

Recuperando o acervo dos vídeos da conferência com o Prof. Manacorda e das disciplinas de pós-graduação

Para iniciar a recuperação de nossas investidas pela internet e comunicação à distância, em 10 de julho de 2006, às 11 horas, no VII Seminário Nacional do Grupo de “Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil (Histedbr)”, tivemos a primeira experiência com a realização da conferência de abertura, em âmbito internacional, com o quase centenário Prof. Mario Alighiero Manacorda, um clássico nas análises históricas e com perspectiva marxista em educação. Para viabilizar a realização da conferência o Prof. Paolo Nosella foi para a Itália, sua terra natal, e realizou todos os contatos e testes necessários para o sucesso do evento. Essa conferência, um aprendizado com um mestre com grande erudição, simplicidade e compromisso com a educação, pode ser acessada pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=5FYQjfoXIxU . Vale registrar que nesse mesmo canal do YouTube, do Prof. Efrain Maciel e Silva, encontra-se excelente material em vídeo sobre a Psicologia Histórico Cultural e sobre a Pedagogia Histórico Crítica, acesso pelo link https://www.youtube.com/c/EfrainMacieleSilva/videos .

Com relação às disciplinas organizadas nos anos anteriores, com aulas ministradas na Sala de Videoconferência da Faculdade de Educação da Unicamp, os vídeos haviam ficado disponíveis para acesso até a mudança de sistema (pelo setor de informática da Unicamp e da Faculdade de Educação), quando isso ocorreu houve a proposta de entrega dos arquivos dos vídeos aos docentes / grupos de pesquisa que as ministraram. Até o momento isso não ocorreu, mas o acervo ainda encontra-se disponível na EaD. No caso do Histedbr essas disciplinas, com o conjunto de suas aulas estão sendo gradativamente recuperadas e disponibilizadas para consulta, uso didático e para a pesquisa, pelo site da Educação à Distância da Faculdade de Educação da Unicamp, como segue:

2º semestre de 2008 - História Filosofia e Educação no Brasil (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/7741/7807)

2º semestre de 2010ED316 A História Geral da Educação e da Pedagogia no Brasil (https://www.youtube.com/playlist?list=PLIO3rdVtpBvYUV41YHcw6kgBpUw3ucp4U)

1º semestre de 2011 - FE191C Seminário I - Leituras Marxistas (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/7741/7755)

2º semestre de 2011 - FE192A Seminário III - Pedagogia Histórico-Crítica e Movimentos Sociais (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/7741/7761)

1º semestre de 2012 - ED314 História da Educação Brasileira (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/7741/7762)

2º semestre de 2012ED307A Epistemologia e pesquisa em educação (https://www.youtube.com/playlist?list=PLIO3rdVtpBvZ6LeO8tMhN4PKu7crI6F3f)

2º semestre de 2012 - FE193B Pedagogia Histórico-Crítica: uma construção coletiva (ofertada como disciplina no PPGE e para o Dinter com a UFOPA) (https://www.youtube.com/playlist?list=PLIO3rdVtpBvYeg1iRCQAql8A89hKJqR6H)

2º semestre de 2014 - FE193D Dimensões Teóricas e Práticas da Pedagogia Histórico-Crítica (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/7741/7766)

2º semestre de 2014 - FE193E Leituras de Marx (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/7741/7767)

2º semestre de 2015 - FE191B Pedagogia Histórico-Crítica e a Escola Pública (https://www.youtube.com/playlist?list=PLIO3rdVtpBvYX0qcV9lRLQP87Pivsg2DL)

1º semestre de 2016 - Participamos ativamente do Seminário “Golpe, Ditadura e Educação”, uma iniciativa da Faculdade de Educação (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/1133)

2º semestre de 2017 - FE190G Seminário I - Educação e Revolução (https://www.fe.unicamp.br/ead/galerias/3676)

 

Breves reflexões sobre o uso da EaD

O uso da EaD não é uma novidade, apesar da grande difusão que está tendo com o isolamento imposto pela pandemia do coronavírus e que surgiu como uma possibilidade de continuidade das atividades escolas para as redes públicas e privadas. Já vinha sendo gradativamente implantada para cursos de graduação e pós-graduação de instituições públicas e, principalmente, pelas instituições de ensino superior privadas que, com sua rápida expansão, tinha garantia de elevada lucratividade do negócio educacional - envolvendo cursos à distância, plataformas educacionais, produção e edição de vídeos e material didático.

Nunca é demais registrar que considero a EaD – bem como a informática, internet e comunicação à distância – uma importante FERRAMENTA de trabalho e de pesquisa que, entre outras funções, possibilita alavancar o trabalho pedagógico e ampliar a socialização das reflexões e da produção acadêmica para além de nossos espaços de sala de aula e dos muros da universidade, indo ao encontro de nossos colegas professores de várias instituições universitárias, bem como das trabalhadores da educação das redes públicas estaduais e municipais, num país continental como o Brasil. Não considero a EaD como uma substituta da educação presencial e da interação civilizatória que possibilita. Certamente esta ferramenta, como outras criadas pelo homem, pode se tornar um instrumento de exploração e de ampliação da lucratividade do negócio educacional, nestes tempos de avanço da privatização e da mercadorização da educação e de outros direitos sociais transformados em serviços. Mas essa modalidade de mercadoria privada, em vertiginoso crescimento nos diferentes níveis da educação nacional, não tem necessariamente compromisso com a qualidade, com a interação social e com o conteúdo filosófico, científico, literário e artístico produzido historicamente pela humanidade e que precisa ser dominado pelos dominados e pelos profissionais em formação nas diferentes áreas.

As tecnologias da informação e da comunicação resultam do desenvolvimento das ciências e da pesquisa em diversos campos do saber e são conquistas que devem estar a serviço do desenvolvimento e emancipação de toda a humanidade. Não há ciência e nem tecnologias neutras, particularmente sob o modo de produção capitalista, uma sociedade que quer transformar tudo em mercadoria, uma sociedade de classes, fundada na exploração dos que vivem do trabalho pelos que detém o capital, com uma racionalidade irracional de sempre expandir a acumulação às custas da destruição da natureza e da humanidade. A lógica do capital é de se apropriar da ciência e da tecnologia para ampliar sua acumulação, tornando a ciência e a tecnologia mecanismo para aumentar a exploração do trabalho, substituindo o trabalho do trabalhador (trabalho vivo) pelo trabalho da máquina (trabalho morto).

Mas esse não é um movimento que apenas reproduz o domínio do capital sobre o conhecimento, nem é apenas a perpetuação da exploração do trabalhador pela burguesia. É um processo contraditório, como todas as dimensões do mundo natural e social. Da mesma forma que a ciência e a tecnologia podem servir ao capital, também é instrumento que possibilita o avanço da produção social do trabalho, o avanço da comunicação dos trabalhadores, da organização da luta para o combate do regime que nos oprime.

É nessa perspectiva de instrumento para ampliar a socialização de conhecimentos que constituam arma teórica, organizativa e formativa dos trabalhadores em sua luta contra a hegemonia do capital que buscamos organizar disciplinas e cursos que multipliquem o alcance de nossa luta pela formação de um novo homem e de um novo modo social e coletivo de produzir a existência humana.

A LUTA CONTINUA!

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